O Padre e a Pecadora
Para você leitor que está começando a ler este conto, confesso-te que o será narrado nas próximas linhas é fruto da minha imaginação devassa, depravada, e imoral. Todos sinônimos, mas que à ventura habitam-me.
O único propósito neste conto e levar-te aos seus desejos, e sensações adormecidas em seu âmbito.
Deus fez o homem a sua semelhança, e desde que nós nascemos, tentamos seguir a risca os dez mandamentos: amar Deus sobre todas as coisas; não tomar seu santo nome em vão; guardar domingos e festas; honrar pai e mãe; não matar; não pecar contra castidade; não roubar; não levantar falso testemunho; não cobiçar a mulher do próximo; e não cobiçar as coisas alheias. Valores que são passados pelos nossos pais, avós, mas que dificilmente seguimos.
O homem vive numa faca de dois gumes, o seu limite sempre estará sendo testado, ainda mais para um homem santo, que dedicou toda a sua vida a Cristo e a igreja, mas em sua essência animal é igual a todos nós. Isso para mim é a grande piada da vida. Pode Deus exigir que um homem se omita aos prazeres da carne apenas por uma escolha própria de dedicar sua vida em devoção a ele?
O padre Matheus acordava todo dia às cinco horas da manhã, rezava durante uma hora na capela da igreja, e depois se dedicava aos trabalhos da comunidade, na pequena cidade de São Raimundo, no interior do Maranhão. As ruas calmas, os bois e as vacas passeavam juntamente com os habitantes pelas ruas de barro. Alguns casarões antigos, casas feitas de barro e palha, outras em alvenaria, a monotonia tomava conta do lugar.E como em toda cidade pequena, a rotina fazia parte da vida dos poucos habitantes da região, os homens iam para a roça e as mulheres
ficavam em casa cuidando dos afazeres domésticos, as senhoras viúvas, ajudavam o padre na educação das crianças, outras senhoras de idade, antes do meio dia, iam se confessar. Um local totalmente isolado do resto do país, não havia televisão, e muito menos telefone, a cidade mais próxima ficava uma hora de jegue, sorte quando aparecia algum automóvel, ou ônibus. Os acontecimentos do ano de 1968: a repressão da ditadura militar, os protestos estudantis por melhoria na educação, guerrilhas instaladas em outros locais, para eles a vida se concentrava ali naquele pequeno pedaço de chão.
A missa das sete horas da noite era de praxe quase toda a cidade comparecer. Havia pessoas que assistiam a missa de pé. Padre Matheus era muito querido e respeitado. Depois todos se recolhiam as suas casas e esperavam o outro dia chegar.
Em meados de agosto, algo muda a rotina da cidade, chega à vila uma mulher de aparentemente trinta anos, acompanhada do marido. Um quarentão rude, que pouco ligava para a mulher a não ser na hora de fazer o sexo. Para Maria era uma obrigação burocrática, na qual não sentia nada. Ela nunca havia descoberto o prazer.
Toda a cidade comentou a chegada do novo casal, e principalmente a beleza da formosa mulher. E realmente era muito bonita. Maria tinha porte de rainha. Os cabelos pretos ondulados caídos pelo rosto, o semblante alvo, os olhos castanhos, a boca carnuda com uma pequena pinta do lado direito, sobrancelhas grossas e bem desenhadas. Os seios fartos e exuberantes escondidos por trás de uma blusa completamente fechada, a saia até os joelhos exibiam pernas grossas e bem delineadas. Maria mesmo com um jeito simples de se vestir, era insuportavelmente charmosa, e sensual.
O casal se integrou rápido ao novo local, Maria já tinha algumas amigas, e o seu marido já estava trabalhando na lavoura junto com os outros homens. A rotina da cidade já fora incorporada à vida do casal. Portanto, no ultimo domingo de agosto, Maria e o marido decidem ir a missa. Até esta presente data padre Matheus ainda não havia conhecido o casal, uma vez que Maria só falava com as vizinhas, e praticamente não saía de casa.
A igreja ficava no alto de uma pequena colina, os lampiões trazidos por homens e mulheres iluminavam a rua escura. Todos vinham conversando, mulheres falando de cozinha, filhos. Os homens vinham falando do trabalho na roça, em beber algo depois da missa, no único bar que existia na entrada da cidade.
Padre Matheus chega ao altar com um coroinha para começar a missa. E algo inusitado acontece. Sem explicação alguma Maria olha para o homem de batina e sente um calor arder em seu corpo, uma sensação nunca sentida antes. Algo que lhe desconsertava, a deixava inquieta por dentro. Sentiu seu coração acelerar e as pernas estremecerem. Na sua vida simples, de esposa e dona de casa, nunca havia se sentido tão estranha, como se a partir daquele momento ela despertasse para a vida. Seu casamento fora arranjado pelo pai, e com quinze anos de casada ainda não havia conseguido dar um filho ao marido, este a chamava de seca, infrutífera. Maria agüentava tudo calada, sentia-se impotente, sem forças. Ela teria que aceitar do destino que Deus havia escolhido para ela.
O padre inicia a missa, todos prestam atenção, mas ele ainda não havia notado a presença de Maria. O tempo ia decorrendo e Maria sentia-se cada vez mais estranha. Observou cada detalhe do homem santo. A fisionomia séria, a cor dos olhos, cabelos, o formato do rosto, as mãos, o jeito de falar, os pequenos gestos, e por algum momento tentou decifrar seu corpo rabiscado pela batina que caia sobre ele. Ela estava se sentindo tão viva, fêmea, mulher, todo o desejo que estava reprimido em seu corpo, agora explodia, causava vários abalos sísmicos em sua alma, essência de amante, amada, que adormecia em sua aurora.
No meio da missa, o padre começa um sermão sobre o casamento, a família, respeito ao próximo, e aos pecados da carne. Todos prestavam atenção, e sempre gostavam do que ouviam. Ele ao olhar para a ponta da terceira fileira dos acentos, olha para Maria. Seus olhos foram acometidos de uma hipnose de tal maneira que parecia existir apenas aquela senhora dentro da igreja. Ele havia conhecido a nova moradora da cidade, e nunca poderia imaginar que ela lhe causaria um forte impacto. Por alguns segundos ficou sem dizer nenhuma palavra, e continuou falando sobre o pecado da carne. Porém algo contraditório estava acontecendo ali. Tudo o que ele falava, estava sem coesão com que o seu corpo e sua mente estavam sentindo naquele momento. Dizia que não devíamos desejar a mulher do próximo, que Deus nos fez para ser apenas de uma pessoa, que devíamos nos voltar para o equilíbrio do espírito, e não ficar alimentando os desejos da carne com pensamentos impuros, pois Deus nos fez para o amor, para amar ao próximo, nossa família, respeitarmos um ao outro.
Pela primeira vez o olhar Maria cruza-se com o de padre Matheus, e ele mais uma vez, por questão de segundos, para de falar, mas logo em seguida continua o seu sermão. Ela desvia rapidamente, ele olha para a entrada da igreja, dessa forma olhando para todos que estavam ali dentro. Não demora muito a hora de comungar, então Maria se levanta, e vai para a fila receber o corpo de Cristo. Seu coração palpitava, era uma sensação espontânea, não podia controlar seus sentidos, e à medida que a fila ia andando, mais apreensiva ela ficava. A mesma sensação o padre estava sentindo. Ambos sem entender o que estava acontecendo com eles, ficaram frente a frente. O olhar frontal dos dois foi quebrado pela presença do corpo de cristo, a boca de Maria abriu-se lentamente para receber a hóstia, e ouvindo as palavras do padre, abaixou a cabeça, e voltou para o seu lugar. Em seus pensamentos com o corpo de cristo na sua boca estava querendo matar-se, ela estaria cometendo o maior dos pecados: receber a hóstia com a alma impura naquele momento. Mas ela pensou que esse momento sagrado de intimidade com Deus a pudesse confortar de seus pensamentos gris.
A missa acaba, e lentamente, todos vão voltando para as suas casas. O padre observa a mulher ao lado do marido até que seus olhos a percam de vista no meio das outras pessoas. Ele olha para a imagem de cristo pendurada no altar, e pede perdão em silêncio. Depois ajuda o coroinha a arrumar o altar, e vai deitar-se. Dentro do quarto sem o peso da batina, ele pega bíblia e reza alguns pais nossos, e umas dezenas de credos. Pede mais uma vez perdão à Deus, e deita-se na cama para dormir.
Maria chega em casa, e vai preparar algo para o marido comer, este sentado numa poltrona prepara o seu cigarro com tabaco, e ascende, esperando a mulher o chamar. Maria, na beira do fogão, lembra do padre Matheus, e sente outra vez um calor dentro dela. O olhar do padre não saía da sua cabeça. O marido janta, e pede que a mulher o faça companhia. A mão bruta é colocada entre as pernas, procurando o sexo da esposa. Hoje ele a usaria. Por volta das nove e meia da noite, marido e mulher estão na cama. Maria sente o beijo molhado e nojento. Ele arranca sua calcinha, bota seu membro para fora e a possui. Sentindo aquele corpo sobre si, a mulher não sentia nada, parecia uma boneca de pano. O marido ao terminar de gozar, sobe as calças, vira para o lado, e dorme. Maria mais uma vez não sentira nada, ela se recompõe, e deitada, olhando para o teto no meio do escuro do quarto, chega a certeza de que chegou a hora de ser amada. Queria ser tocada pelo padre. Em seus pensamentos, ele a faria sentir sensações ainda mais fortes do que ela sentiu, quando o olhou pela primeira vez. Ela o queria, e ao mesmo tempo se julgava mundana, imoral, pois para ela a mulher deveria respeitar o marido, e agora estava atraída, e apaixonada pelo um padre. Era tudo confuso, seu instinto ia de contra aos seus princípios morais. O amor, o desejo, a paixão, colocou-a num dilema.
No seu pequeno quarto no fundo da paróquia, padre Matheus acorda assustado. Ele teve um pesadelo. Iria dar meia noite, quando olhou para o relógio da parede. Algo que há muito tempo não acontecia o atormentava. Algo latejante entre suas pernas estava confessando o teor de seu sonho. Sonhou com Maria nua em sua frente. Os seios rosados, a pele branca, o colo do corpo liso, o sexo escondido por alguns pêlos pubianos. Ela vinha em sua direção, o beijava, tocava a parte do seu corpo adormecida durante anos. Isso não podia estar acontecendo. O padre chorou, se ajoelhou em cima do milho, e rezou diante a imagem de cristo pendurada na parede do seu quarto. Rezou durante duas horas, dormiu deitado no chão pedindo perdão a Deus.
De manhã cedo o marido vai para a roça trabalhar, e avisa a esposa que vai voltar para almoçar. Maria teria que mudar seus planos, teria que ir à igreja apenas pela parte da tarde. Ela espera o marido terminar de almoçar, e voltar para lavoura para que pudesse ir ao encontro de padre Matheus.
Na igreja, o padre estava no confessionário ouvindo uma das beatas, quando Maria chega. Ela se senta no banco do fundo, e espera a velha sair. Lentamente ela caminha, e se ajoelha diante da tela que a separava do padre. Seu coração acelerava, as palavras não queriam sair de sua boca. O padre a reconheceu, e seu coração acelerou, e o clima apreensivo tomou conta da igreja até que Maria quebrou o silêncio.
– Bom dia padre?
– Bom dia minha senhora disse quase sem voz
– Padre eu vim confessar meus pecados.
– Diga-os, pois Jesus sabe que você é uma boa filha.
– Não sou. Eu estou tento pensamentos impuros. Estou apaixonada por outro homem.
O padre ficou calado por alguns minutos…Não sabia o que dizer aquela mulher.
– Tente afastar esses pensamentos ruins de sua cabeça. Seu marido é um bom homem. Reze dez ave marias e dez pai nossos.
– Você não entende padre. O que eu estou sentindo agora, eu nunca senti por nenhum homem. Não vai adiantar eu rezar, mesmo que eu reze a minha vida toda, o que eu sinto por esse homem, nunca irá acabar.
– Tente elevar seus pensamentos a Deus, ele lhe dará uma saída.
– Eu estou apaixonada por você. Eu percebi a maneira que você me olhou nas vezes em que nossos olhares se cruzaram. Foi algo tão forte dentro de mim. Eu sei que você sente a mesma coisa por mim.
O silêncio do padre era a resposta afirmativa que Maria precisava ouvir. Ele agora não teria nenhuma saída, a não ser confessar o seu amor por ela. No entanto as palavras faltavam, ele não sabia como agir e falar, estava totalmente indefeso.
– É verdade, mas eu rezei muito e afastei esses pensamentos impuros da minha cabeça. Eu dedico minha a vida a Deus. Não sou igual aos outros homens, não posso desfrutar dos prazeres terrenos.
– Não padre, você é igual a qualquer outro homem, quando eu fiquei na sua frente, antes de receber a hóstia, éramos um homem e uma mulher que descobriram que se amavam. Você acha que eu escolhi gostar de você?
Talvez para olhos mais conservadores, o momento da hóstia era um padre entregando o corpo do Senhor para uma fiel. Mas apenas os dois sabiam do que estavam falando e sentido. O coração acelera, nos sentimos apreensivos, os olhos brilham, há uma áurea de felicidade em torno de uma pessoa que está amando, e estar perto da pessoa amada, sentindo que essa pessoa também a ama, realmente isso é uma sensação indescritível. O padre Matheus sabia de verdade o que Maria estava falando.
– Nem eu! Isso é difícil para mim. Vou rezar muito por você e por mim. Nosso amor é impossível.
– Não diga isso padre. A minha vida é péssima, eu não amo meu marido. Se não for com o homem que eu amo…Ontem ele me procurou, eu não sinto nada, não gosto de ser tocada por ele. Pensava que essa era a minha sina, mas depois que lhe vi, descobri que Deus havia me enviado você.
– Minha senhora… Vai ser melhor assim. Temos que nos afastar para tirar de dentro de nós a tentação que o demônio está nos colocando. Acho melhor você ir rezar agora.
– Mas padre…Você me a…
– É melhor você ir disse Matheus.
Maria vai embora da igreja sem olhar para trás.
O padre estava suando frio, suas mãos estavam geladas, faltava-lhe o ar, e a razão para poder acreditar piamente no que tinha acabado de ouvir. Passou o resto da tarde pensando na conversa que teve com Maria. Ele rezava, tentava elevar seu pensamento a Deus, mas a figura de sua amada vinha a sua cabeça.
Maria voltou para casa, e não acreditava no que tinha feito. Rezou um pouco, mas fez o que o seu coração estava pedindo. Será que Deus teria colocado uma grande provação para ela? Ela deveria continuar sendo boa esposa, fiel, companheira do marido? Nesse dia Maria não foi à missa, inventou para o marido que não estava passando bem. O marido acreditava no mal estar da mulher, na esperança da mulher estar esperando o filho que ele tanto sonhava.
O padre procurou Maria entre as pessoas que estavam na igreja, e não a encontrou. Seu coração sentiu um aperto. Iniciou a missa perguntando-se como ela estaria naquele momento? Ele rezou a missa numa certa agonia, e não conseguia parar de pensar na mulher que estava atormentando a sua alma desde de ontem. A missa termina, e vai rezar no seu quarto. No meio da noite, acorda-se assustado mais uma vez. Sonhou que seu corpo estava sendo tomado pelo calor do corpo que tanto desejava, sua alma estava inerte em pensamentos impuros. Podia sentir o calor dos seios e do sexo derramando rios de sensações desconhecidas sobre seu corpo. O homem puro começa a rezar, rezou a noite toda, quando percebeu já era dia.
A manhã estava nublada, com nuvens cinzentas no céu, não havia nenhum raio de sol. Um pequeno frio ensaiava uma tempestade matinal, mas para a surpresa de todos não caiu nenhuma gota. De tarde a expectativa era a mesma, e nada aconteceu. No entanto o céu estava mais cinzento, e uma friagem como nunca havia feito na cidadezinha, fez com que os moradores colocassem um pouco mais de roupa. Os homens voltaram cedo da lavoura, as mulheres ficaram recolhidas dentro de casa, algumas crianças tentaram estudar, mas o padre achou melhor que eles retornassem a suas casas para não pegarem um resfriado.
Havia um certo cansaço na fisionomia do padre, pequenas olheiras denunciavam um noite mal dormida, e seu pensamento vagava em outro plano procurando uma resposta para sua inquietude. Até o inicio da missa, não fez outra coisa, senão pensar confinado dentro da igreja.
Maria ficara em casa guardando-se do frio, e também passou a tarde toda pensando. Ela refletiu, conversou com Deus a sua maneira, e pedia um sinal de ajuda. Queria apenas um sinal para tomar a atitude que o todo poderoso achasse certa. Seu coração teimava, mas ela pensou, não parou de pensar. Chegou a pensar que a chuva seria um castigo, que poderia haver uma forte tempestade, devastando todo o local, principalmente sua casa. Seu marido chegou no fim da tarde, e mandou-a se arrumar para ir à missa. Algumas senhoras famosas por conhecerem o tempo na região afirmavam que a chuva iria ocorrer apenas no outro dia, apesar de nunca ter visto nada igual em mais de cinqüenta anos.
Todos pegam seus lampiões, e os mais precavidos trazem algo para se proteger da chuva. Os moradores vão se aglomerando em direção à igreja, o vento não muito forte chegou a apagar algumas lamparinas, mas continuaram até chegar ao destino de todas as noites.
O altar já estava pronto, e padre Matheus já estava esperando a igreja encher. As pessoas chegaram em um mutirão só. Todos se acomodaram, e ao ver Maria, sentiu um frio percorrer sua espinha. Ela sentiu um calafrio, e se aproximou segurando uma bíblia de braços dados com o marido, e foram sentar juntos com os vizinhos da casa em frente à dela bem na primeira fileira, para desespero dos dois corações apaixonados.
A missa inicia-se, o olhar de ambos denunciavam uma agonia, incertezas. Tentaram se evitar durante toda a missa. Ela olhava para baixo, ele olhava para os bancos de trás da igreja. Mas algumas vezes os olhares se cruzaram. O silêncio existia apenas para os dois, as palavras que o padre Matheus falava não tinham sentidos, ela não ouvia nada do que ele dizia, estava compenetrada em seus pensamentos. Todos assistiram a missa normalmente, o vento traz um frio para dentro da igreja. Os bicos dos seios de Maria ficam durinhos furando a blusa delicada de algodão. O braço do marido tenta aquecê-la. Outras pessoas se agasalhavam como podiam.
O olhar, de cima do altar, contempla os seios de Maria rapidamente sem que alguém perceba. Ele sente-se tentado, e anuncia a hora de comungar. Uma pequena fila vai se formando. Esperava que Maria fosse receber o corpo de cristo mais uma vez, mas ela não podia, e nem se achava digna de recebê-lo. Como o padre queria ouvir uma palavra sequer daquela boca sem pintura alguma, mas a sua amada permaneceu sentada ao lado do marido, e assim foi até o fim da missa.
Todos vão se levantando e caminhando em direção as suas casas. Um dos homens tem a idéia de beber uma branquinha no bar para esquentar o corpo do frio que assolava aquela região. O marido de Maria e o vizinho vão com alguns homens em direção ao bar. Maria segue com as vizinhas, quando se dá falta de sua bíblia no meio do caminho, e decide voltar para buscá-la.
O vento quase apaga o lampião que Maria segurava, o vento estava ficando cada vez mais forte, as folhas do chão começam a se movimentar, e algumas até levantaram um pequeno vôo, a poeira batia nas pernas dela até que chegou a igreja na hora que o padre ia fechar as portas. Os dois se encaram seriamente com uma certa apreensão:
– Vim buscar minha bíblia que esqueci.
– Está que está na minha mão? perguntou o padre.
– Essa mesma. respondeu Maria.
– Pegue. disse o padre.
– Obrigado. Eu gosto de ler a bíblia antes de dormir.
Uma chuva forte começa a cair na cidade. Rapidamente forma-se um rio escoando a água barrenta formada pela chuva. O padre puxa Maria para dentro e fecha o portão. Os dois com poucos pingos ficam se saber o que dizer um ao outro. E enquanto seu marido estava preso dentro do bar, ela estava presa com o homem que amava verdadeiramente. Será que essa era o sinal que Deus havia enviado?
Dentro da igreja Maria começa a falar:
– A chuva não vai passar tão cedo, meu marido deve estar preocupado comigo.
– Ele vai encontra-la sã e salva. Aqui não há nenhum perigo. disse Matheus.
– Ele está bebendo com os amigos no bar, espero que ele tenha ficado lá. Meu marido pensa que eu estou em casa.
– Assim vai ser melhor. Maria eu queria lhe dizer algo.
– Diga padre, eu estou ouvindo o senhor.
– Eu pensei em você o dia todo, e acabei tomando uma decisão. Ela vai ser melhor para nós dois. Não podemos continuar convivendo com essa situação, esse amor impossível.
– Impossível para você padre. Eu estou disposta a largar meu marido, e enfrentar o preconceito de todos por amor a você.
– Eu estou indo embora. Vou escrever uma carta para a capital pedindo para ser transferido para outra igreja. Outro padre deve ser designado para esta cidade.
– Eu também estava decidia a passar um tempo com os meus familiares. Iria inventar uma suposta gravidez.
– Mas isso é errado Maria. Mentir não é bom. Seu marido não merece isso.
– Padre você está mentindo para você mesmo quando tenta fugir do sentimento que você sente por mim. Diz que você não tem vontade de me beijar? disse Maria se aproximando de Matheus.
– Não é verdade disse o padre imóvel. ele tentava se mexer, mas suas pernas pareciam estar paralisadas.
– Matheus eu te amo disse Maria dando um beijo nele.
Sua boca sentiu o calor quente de outra boca, era uma sensação tão boa para ele. A mão da mulher amada acariciando seu pescoço. Tentou empurrá-la e dizer um não praticamente sem alguma sonoridade. As mãos inexperientes de Matheus acariciavam as costas através do tecido fino. As mãos femininas desvendavam aquele peito forte, o abdômen nunca visto, a batina foi aberta lentamente. As quatro mãos a despiram. O padre já não existia, agora era apenas um homem e uma mulher descobrindo o amor. Matheus pode vê-la completamente nua, e conhecê-la pelas suas mãos. O chão frio da igreja recebeu o corpo de Maria que por sua vez recebeu-o em seus braços. O barulho da chuva era ensurdecedor. A vulva latejante recebeu o corpo quente de seu amado, que ao sentir um calor tomando conta de seu sexo soltou um pequeno gemido. Os movimentos eram lentos, os beijo apaixonado selava a união. Sua boca beijava aqueles seios rosados de mamilos grandes, e como uma melodia, se amaram. A amante ensinava o caminho para seu amado que era posto de costas no chão. Maria cavalga em seu amor, sentindo algo macio, grosso, dentro de si, sussurrando alguns gemidos de prazer. As mãos daquele homem exploravam cada poro do seu corpo. Lentamente ela cavalgava, sentiu uma certa agonia do padre e parou para que ele ainda não gozasse. Abraçou-o com o membro ainda dentro dela, e viram uns clarões por detrás do vidro da igreja, uma luz forte irradiou e sentiram uma leveza em suas áureas. Ela pediu que ele a amasse. Depois de um longo beijo a fêmea vira-se outra vez com seu amado dentro de suas entranhas e o abraça, o beija, os movimentos saem lentamente e não demora muito para que aquele homem inexperiente conheça o prazer, e é recebido com as unhas de sua amada arranhando suas costas. Os dois haviam chegado ao clímax do prazer como se já tivesse feito amor antes. Os trovões, a chuva, e as velas que iluminavam a igreja, e o Senhor foram testemunha de ato de amor. Os dois dormiram exaustos, alheio ao dilúvio que desabava lá fora.
O padre acorda e sente a culpa caindo sobe suas costas, acorda Maria e a manda embora. Ela segue para sua casa sem entender tal atitude, mas estava preocupada com o marido. Por sorte ela consegue chegar em casa antes dele. Eram cinco e meia da manhã, e ainda estava escuro. A chuva tinha ido embora, e as ruas estavam alagadas. Segue para o banheiro, e vai tomar um banho, pensando no que acabara de cometer. Tinha cometido adultério, agora era diferente das outras mulheres, uma vagabunda, mundana, devassa. Mas não fundo ela estava feliz, em seu pensamento a luz que apareceu na igreja era o sinal que Deus havia permitido o amor dos dois, por causa da sensação que havia sentido naquele momento. Rezou diante da imagem de Cristo, e foi preparar o café para o marido que logo chegaria em casa.
O padre não entendeu da mesma forma que Maria. Havia traído a confiança de Deus. Sujou o nome do criador com o pecado da carne. Não merecia estar dentro daquela igreja. A luz era a desaprovação do seu pai todo poderoso. Ele chicoteou seu corpo nu com o seu próprio cinto. A fivela causava hematomas, a dor era insuportável, mas ele queria senti-la para purificar sua alma. Com o corpo todo dolorido, escorrendo em sangue, foi até a imagem de Jesus Cristo no altar, e ficou olhando-a.
Os primeiros rios de sol começam a limpar o céu. As pessoas começam a reparar os estragos. Todos ficaram preocupados com os pequenos estragos da chuva que ainda não havia percebido que a igreja não abrira os portões. Algumas senhoras foram até lá chamar o padre, mas nada se ouvia. A notícia espalhou-se pela cidade, todos comentavam o assunto. Em dez anos que o padre Matheus cuidava da paróquia, ela nunca havia ficado de portas fechadas. Maria ficou preocupada, mas tentava esconder sua tensão. Alguns homens foram chamados para arrombar a porta, o padre poderia estar passando mal.
Praticamente a cidade toda estava diante da igreja. Encontraram padre Matheus caído nu com o sangue escorrendo no altar. A multidão correu para acudi-lo, mas ele não respondia nada, encontraram o cálice ao seu lado, junto com uma garrafa de água sanitária. O padre havia cometido suicídio. Maria se desespera começa a gritar, todos a olham sem entender nada, ele vai até a mesa do altar pega uma cruz de prata que estava em cima da bíblia, e diante do corpo de padre Matheus, crava-a em seu próprio peito dizendo: se Jesus Cristo tirou você de mim, ele me levará até você meu amor. Assim, a pecadora caiu desfalecida sobre o corpo do amado, balbuciando: eu te amo.